Sinopse
Baseado na série de livros de Michael Connelly, o drama acompanha o idealista iconoclasta Mickey Haller (Manuel Garcia-Rulfo) que comanda uma firma de advocacia no banco de trás de seu carro, trabalhando em pequenos e grandes casos em Los Angeles. Após algum tempo longe do direito, Mickey está tentando encontrar um novo caminho na profissão. Quando retorna para Los Angeles, ele se depara com um mistério para resolver assim que inicia o novo negócio. Contudo, não é apenas com um caso em mãos e carreira com que Mickey precisa se preocupar. Mickey quer se reaproximar de suas duas ex-esposas: Lorna (Becki Newton) e Maggie (Neve Campbell). Mickey se divorciou de Lorna recentemente, enquanto Maggie foi sua primeira esposa com quem teve uma filha, Hayley (Krista Warner).
Trailer Oficial
Crítica
É difícil dizer se existe de verdade uma tendência de mercado aí, mas o fato é que a adaptação ao cinema do livro Advogado de Porta de Cadeia (publicado pela Editora Record no Brasil), de Michael Connelly, lida com um elemento poderoso nestes tempos de Taylor Lautner sex symbol: a reafirmação do macho americano à moda antiga.
Matthew McConaughey não é Robert Mitchum, mas veste à perfeição esse tipo de papel que pede mais carisma e presença de cena do que talento em si. Ele é Mick Haller, pai de família separado, advogado que circula em Beverly Hills com seu motorista negro em um Ford Lincoln. Vem a ele um playboy (Ryan Phillippe) acusado de espancar uma garota de programa, e Mick aceita conduzir o caso, mesmo incerto da inocência do cliente.
O eterno garoto Phillippe é o contraponto ideal para fazer McConaughey parecer mais maduro, até mesmo mais sábio, com suas olheiras pouco a pouco mais fundas. O diretor Brad Furman não desperdiça planos e trabalha com close-ups o tempo inteiro, até o limite do bom senso. Essa escolha, normalmente discutível, gera para O Poder e a Lei dois dividendos: é um filme em suspense constante por conta desse corpo a corpo; e McConaughey, com suas frases de efeito e seu sotaque carregado, se sai melhor nas conversas ao pé do ouvido.
De nada serviria esse teatro se não fosse o texto de Connelly. Bom personagem de noir, o convencido Mick Haller é passado para trás no jogo que dominava – e como todo filme policial é antes um conto moral, a volta por cima de Mick exige que ele reavalie seus valores. Furman sabe matizar esse arco que já chega pra ele muito bem definido, das noites cor de âmbar em que Mick bebe até cair aos dias ensolarados no parque, com o advogado fazendo um churrasco para a família.
É disso que trata o ideal americano do macho: não importa o seu grau de alcoolismo, contanto que você saiba grelhar um bife para sua prole. No caso de Mick, ele personifica o justiceiro, que zela da varanda por sua família, e também o capitalista liberal, cujos pequenos golpes perdoamos por sua iniciativa agressiva. São dois tipos caros ao imaginário local, e que ao longo de O Poder e a Lei são trabalhados na fronteira da canastrice.
O melhor momento do filme não poderia, portanto, ser outro senão a farsa no tribunal, em que o galã aplica outra camada a essa canastrice (sem detalhes aqui, para não estragar o filme). O Poder e a Lei tem consciência dos signos que está manipulando – os motoqueiros, o promotor coxinha, as mulheres fragilizadas, tudo contribui para elevar o macho alfa – e é difícil imaginar outro ator-objeto servindo a esse propósito no lugar de Matthew McConaughey.